O que isso tem a ver com gênero?!!

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ana - Posted on 19 May 2009

Deisi Sangoi Freitas (UFSM/Brazil)



Relato de experiência de sensibilização de estudantes de pedagogia numa perspectiva de educação afetivo-sexual.

Esse relato diz respeito à implementação de uma atividade pontual de sensibilização para questões de gênero numa perspectiva denominada internacionalmente, por diversos pesquisadores, de educação afetivo-sexual.

A mesma foi realizada no primeiro quadrimestre desse ano de 2008/2009 com uma classe de aproximadamente 60 estudantes de primeiro ano, de Educación Infantil da universidad de Sevilla, Faculdad de las Ciencias de La Educación, na asignatura Conocimiento Del Medio Natural, Social y Cultural, ministrada por Ana Rivero Garcia e desenvolvida e aplicada pela autora desse relato.

Aqui discutimos alguns pressupostos metodológicos e epistemológicos que dão sustentação a atividade.

A primeira questão que nos colocamos é Por que tratar de gênero em aula? Frente a complexidade de situações que a contemporaneidade propõe para escola e seu professorado no que se refere a questões das minorias, diferenças culturais e injustiças sociais, acreditamos de extrema urgência disponibilizar aos futuros professores e professores formas alternativas ao ensino tradicional, de abordar essas candentes questões sociais com intuito de construir caminhos para igualdade de direitos e para uma convivência mais pacífica.

Importante também registrar que documentos oficiais de vários países, jornais e estudos acadêmicos, sinalizam a urgência de se trabalhar a educação afetivo-sexual já no currículo formal para, desde aí, atuando no período de formação do sujeito, buscar, ao promover a igualdade sexual e de gênero e o respeito às diferenças, evitar a violência e construir valores mais democráticos e de cidadania.

Nesse sentido, a discussão aqui exposta tem seu ponto de partida numa experiência de curso de extensão executada no período de março a agosto de 2007, na Universidade Federal de Santa Maria, sob o título/tema: Diversidade Sexual e Igualdade de Gênero: que coisa è essa chamada gênero? Esse Curso teve seu foco na Educação de Professor@s em Serviço e contou com o apoio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade – SECAD/MEC, vinculada ao plano Nacional Brasil sem Homofobia e de Políticas para as Mulheres, ligadas à Presidência da República daquele país.

Refletirmos sobre diversidade sexual e igualdade de gênero quando cobra-se da escola uma formação que dê conta, ou no mínimo, aproxime-se das necessidades exigidas pela contemporaneidade, requer estarmos cientes das características da sociedade na qual estamos vivendo, além de tentarmos compreender implicações subjacentes às práticas curriculares.

Dentro dos diferentes contextos sociais em que violências de toda natureza a indivíduos em função de seu sexo ou de sua sexualidade, continuam sendo praticadas na sociedade, a escola, não pode mais seguir adotando a prática do silêncio e da exclusão. E para que haja mudança nas práticas viabilizadas na escola, è necessário investir no sujeito que educa: o professor.

É imprescindível, portanto, que @s professor@s não se abstenham da tarefa de questionar os conteúdos a serem trabalhados, isso é importante, de acordo com Apple (1982), não apenas para ver quais ideologias são “expressadas” ou “representadas”, mas também para que possam começar a decifrar tanto a forma sob a qual qualquer conteúdo “é ele mesmo parte de um ativo processo de significação através do qual um significado é produzido”, quanto compreender as possíveis contradições dentro do próprio conteúdo, do próprio texto.

Superando uma visão de aparente inocência e neutralidade do currículo, este passa a ser visto como um instrumento significativo para desenvolver processos de conservação ou de transformação de conhecimentos historicamente acumulados, bem como, para garantir, nos estudantes, a manutenção de determinados valores considerados desejáveis. Visto desta forma, o currículo em si se apresenta como um mecanismo de regulação social, na medida em que define o que deve ser conhecido e o que deve ser desprezado, através de seu processo de classificação, seleção e ordenamento dos conhecimentos.

Essas preocupações fazem parte da agenda daquel@s que buscam superar os mecanismos da exclusão escolar e que priorizam uma educação para a autonomia dos sujeitos sociais, a qual é requisito básico que deve orientar nosso relacionamento com a “indústria cultural” da sociedade contemporânea. Sendo assim, os conteúdos escolares devem constituir-se em uma ponte para essa conquista, pois ela é um bem necessário, gerador de decisões e criador de possibilidades de mudança (FREITAS, 2009).

Nesse sentido, a atividade que apresentamos pode ser um exemplo de abordagem alternativa sobre questões de gênero, e que possibilita mapear as concepções dos estudantes sobre o tema – a partir do qual se estruturaria uma aula, uma unidade didática ou mesmo um currículo de curso.

A Atividade

A atividade foi realizada da seguinte maneira:

foram distribuídas 22 folhas de ofício com recortes de periódicos com referencia a variados assuntos como religião, cinema, beleza, prêmios profissionais, esporte, policial, anúncios publicitários, doença e saúde, etc. (vide anexos)

Em grupo, os estudantes deveriam ler o recorte, discutir entre si e responder por escrito o seguinte questionamento: o material recebido tem (na opinião do grupo) relação com gênero? Por que (justificativa)?

Entregar suas resposta

Discutir e problematizar as conclusões no grande grupo

Apresentação comentada das concepções mapeadas.

IMAGENS...dos materiais utilizados e dos grupos trabalhando

 
 
 
 
 
 
 
 
Os materiais e suas possibilidades

O material usado, a saber: recortes de periódicos(grande mídia), se presta muitíssimo a esse exercício de sensibilização por suas características polissêmicas que nos permitem muitas “leituras” e associações e por dizerem de tópicos que afetam nossa vida cotidiana, parecendo aos olhos mais desavisados, neutros, o que pede um trabalho de desenvolvimento de leituras críticas.
Dessa forma nos propusemos a uma escuta dos grupos e de suas considerações a respeito dos materiais, que descriminaremos a seguir, e das possíveis reflexões que tínhamos eleitas quando escolhemos tais recortes.
Dentre os mais de 40 recortes distribuídos nas 22 folhas de oficio já mencionadas, tínhamos:

Casos de violência relacionados à liberdade sexual e gênero. Se chegam a questionar porque as mulheres sofrem mais violência e incluso  perdem a vida em mais situações que os homens?!!
Se identificam anúncios sexistas e que reforçam as diferenças entre os gêneros. (Enfatizam a importância especialmente, da mulher  ser bela e de um tipo de beleza muito restrito... aparentar menos idade, não ter rugas, ser magra (anorexia...), ou no caso dos homens serem musculosos, ter determinado desempenho, etc ...
Se percebem a pressão da mídia no que diz respeito a  diferencia dos salários e/ou a possibilidade de ascensão na carreira (necessidade de prêmios alternativos de Nobel para as mulheres entre outros???)
Se o cinema influencia e como os comportamentos relativos a aborto, uso de drogas, e sexuais, (uma das reportagens faz referencia a síndrome de Down, relacionada em geral com a idade da mulher e algumas vezes, dependendo da cultura, como um castigo de Deus).
Imagens de Mesquita/ e de uma procissão católica e comportamento sexual de Mar Flores com o intuito de mapear se os estudantes relacionam as influencias das religiões e de determinadas pessoas (modelos) sobre o comportamento sexual das maiorias numa determinada cultura.

Diferentes dimensões apresentadas pelos grupos

A partir das respostas escritas pelos grupos, muitas análises são possíveis,
Por exemplo podemos olhar para as respostas num nível mais individual, numa perspectiva cultural ou a nível de políticas públicas. Vejamos:
 
 INDIVIDUAL - O QUE QUERO PARA MIM, O QUE POSSO E O QUE ME PERMITO FAZER...    Ex. Ter vários namorados ao mesmo tempo...

CULTURAL - AQUILO QUE È CONSIDERADO CERTO OU ERRADO POR UMA DETERMINADA     SOCIEDADE = MODELOS ...Ex-Fumar, usar calca comprida, trabalhar fora, ter relações sexuais antes do casamento etc.

POLÌTICAS PÙBLICAS - LEIS QUE REGULAMENTAM OS COMPORTAMENTOS E QUE PODEM AUMENTAR OU MINIMIZAR AS DIFERENCAS DE GENEROS... Ex. Votar

Dentro dessa perspectiva temos:

1- IDENTIFICARAM OS CASOS DE VIOLËNCIA CONTRA MULHER COMO UMA QUESTAO RELATIVA A DIFERENCA DE GENERO mas não problematizaram o porque e nem a necessidade de ações educativas ou de políticas publicas para minimizar a questão.

2- EM GERAL IDENTIFICARAM AS DIFERENCAS ENTRE HOMENS, MULHERES E HOMOSSEXUAIS COM RELACAO A CARREIRA ESCOLHIDA E POSSIBILIDADE DE ASCENSAO, SALARIOS E VISIBILIDADE NA MÌDIA ex. a quase ausência de mulheres na sessão de esportes,  na reportagem sobre o Prêmio Nobel não perceberam o porque da existência de um Premio Nobel Alternativo.

3 – IDENTIFICARAM QUE A MULHER SOFRE MAIS PRECONCEITO QUE O HOMEM AO APRESENTAR UM COMPORTAMENTO SEXUAL MAIS LIBERAL mas não problematizaram ou justificaram os motivos pelos quais isso ocorreria...

4 – NÃO RELACIONARAM RELIGIOES COM GENERO, nem quanto ao que pregam sobre o comportamento de homens e mulheres e nem quanto sua própria hierarquia interna, na qual, a maioria ainda não aceita mulheres nos postos máximos. Ex: Católicos, mulçumanos e judeus.

5 – NÃO RELACIONARAM O GENERO COM AS REPORTAGENS SOBRE SAÚDE da mulher, Síndrome de Down e aborto em adolescentes.

6 – PERCEBERAM CLARAMENTE A INFLUENCIA DE ARTISTAS, DA MÍDIA E DO CINEMA nas mudanças da sociedade em relação as questões de gênero, Ex: homens que compartem a guarda dos filhos, mulheres que pagam pensão para ex-maridos, etc.

7 – IDENTIFICARAM RELAÇOES DE GENERO EM ANUNCIOS PUBLICITÁRIOS de medicamentos para melhorar desempenho sexual e no consumo de drogas como extasis mas, não justificaram as relacionaram com as pressões histórico-culturais.

8 – IDENTIFICARAM A PRESSAO DA MIDIA SOBRE HOMENS E PRINCIPALMENTE SOBRE AS MULHERES em relação à forma física e a aparência, mas não problematizaram as conseqüência da mesma, como uso de anabolizantes o  aumento de transtornos de comportamento tais como a anorexia e bulimia.

Podemos realizar também uma análise do próprio material utilizado e da compreensão dos estudantes da atividade proposta, o que permite sua reestruturação e aperfeiçoamento. É importante que como pesquisadoras, estejamos atentas a eficácia e eficiência dos métodos e estratégias usadas para ensinar bem como, para investigar. Nesse caso consideraríamos que algumas respostas ou sua ausência poderia estar relacionada a compreensão equivocada ou não compreensão da atividade proposta, já que se tratou de uma intervenção pontual, que certamente teria resultados mais consistentes se estivesse associado a uma proposta curricular em que outras ações anteriores e posteriores a ela ampliariam seu significado no contexto educativo.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

APPLE, M. W. (2006). Ideologia e Currículo. Porto Alegre, RS, Brasil: Artmed.
APPLE, Michael. (1989) Educação e poder. Porto Alegre, RS, Brasil: Artes Médicas.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. (1997) Parâmetros curriculares nacionais: pluralidade cultural, orientação sexual/ Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF.

BOLIVAR, A.:DOMINGO, J. y FERNANDEZ, M. La Investigación Biográfico-narrativa en Educación: enfoque y metodología. (2001) La Muralia, Madrid.

Freitas, D.S. Formação docente na, pela ou apesar da diversidade? In: Anais da Reunião da Associação de Estudos Latino-Americanos (LASA) de 2009, no Rio de Janeiro, Brasil,de 11 a 14 de junho de 2009.


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